Entro no consultório e não digo nada. Aguardo o doutor me chamar:
- Gisele Almeida!
Opa, sou eu! Entro na sala e vou direto para o divã. O doutor senta-se ao meu lado, porém, de forma que não consigo olhar diretamente para ele. Logo ele pede para que eu comece a falar. OK, falo:
- Doutor, tenho um sério problema!
- Que tipo de problema?
- Um grave problema!
- Então, fale sobre esse problema! - disse ele, já impaciente. Era óbvio que eu estava ali porque tinha algum problema.
- Eu tenho o hábito de problematizar tudo. Problematizo coisas simples, complexas, habituais... Tudo!
- Por favor, Srta. Gisele, seja mais específica.
- Doutor, eu fico estressada com facilidade, não tolero certos tipos de pessoas, me sinto culpada pelo erro dos outros e recentemente constatei que sou assim porque problematizo tudo.
E a conversa foi se desenvolvendo, e o doutor ficou ali, só ouvindo e anotando, enquanto eu, refletia em voz alta. Sim, eu tinha um problema. Eu problematizava. E não era pouca coisa. Era tudo. Não tolerava temas polêmicos, eram graves demais. Não elogiava as pessoas porque iriam se achar demais. Sempre achava que havia de errado comigo e queria respostas. Queria saber a raiz de problemas que não existiam. Não concordava com ninguém pra não acharem que não tinha opinião própria. Insistia com processos, eram importantes para a ordem do mundo. Insistia em ter que mudar as coisas, porque não estavam certas. Ah, e na vida amorosa? Era um horror, ninguém era digno de mim, e quando era, eu problematizada e perdia o candidato. Eu nunca me achava boa o bastante para o outro. E quando algo me incomodava, e sabia o que era , via defeitos em tudo, criticava tudo. Ia sempre para o lado oposto, eu apenas problematizava.
Após longos minutos explanando minhas reflexões, perguntei:
- O que você acha doutor?
E ele , com a certeza de profissional que era e toda a instrução que lhe cabia no momento, respondeu com convicção:
- Bem, acho que você está apenas problematizando.
Levantei-me sem dizer nada, peguei minhas coisas e sai aliviada. Estava apenas problematizando novamente.
Um mundo, onde idealizamos coisas que podem se tornar reais e não apenas uma utopia, querendo se igualar a perfeição. Um mundo de coisas boas e ruins, algo real dentro de uma mente idealizadora e a favor da atitude e do progresso.
quarta-feira, 16 de março de 2016
A consulta
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