domingo, 20 de dezembro de 2015

Embalos em plena segunda-feira de manhã


              Segunda-feira, chuvosa e sonolenta. Desço na estação Luz, como de costume. Mais um dia como outro qualquer, sem novidades. Caminho em direção a escada rolante para fazer a baldeação para a linha amarela, sem prestar atenção alguma, de tão automática que essa situação se tornou no meu dia-a-dia. Porém, nesse momento, algo alterou-se em minha rotina. Quando me encaminho para escada, um jovem olha para trás e me encara. Primeiramente, olho assustada, mas depois, logo o admiro. Uau, ele não é de se jogar fora: levemente moreno, cabelos escuros, alto, atlético e usava um traje social que o vestia muito bem, era elegante. Enquanto o observo, ele vira para frente e sobe as escadas, vou atrás dele, sem opção. 

Ao chegar no corredor em direção a linha amarela, ele para na minha frente e volta a caminhar rapidamente, soltando uma leve risada. Bem humorada, aceito a brincadeira e passo na frente dele e paro também. Ninguém fala nada, mas continuamos esse joguinho como se fossemos velhos amigos. Por vezes, nos olhávamos e fazíamos caretas um para o outro. Não esperava tanta alegria em uma segunda-feira de manhã, estava me divertindo demais, as pessoas nos observavam, uns rindo e outros estranhavam nossa atitude.  
            Tudo estava indo bem, até que chegamos na catraca da linha amarela e caminho ao seu lado, rindo. Ele retribui com um sorriso fofo. Continuamos nossa caminhada em silencio, e como de costume, vou para a escada oposta, para evitar multidão. Mas ele não, vai pela escada da frente. distraído, e só depois percebe que não estou perto dele. Me procura com os olhos e quando me vê, faz uma carinha de decepcionado. Também fico um pouco triste por minha pequena aventura acabar tão depressa, mesmo assim continuo o meu trajeto. Quando descemos as escadas rolantes, elas sincronizaram, nossos olhares se encontraram, e, por pelo menos mais uma vez, vi o quanto ele era bonito.
         
          Chego na plataforma toda sorridente, pensando nessa paixão de cinco segundos. Que loucura! Continuo pensando distraidamente, quando olho  para o lado e meu coração dispara. Sorridente, aquele lindo rapaz vem em minha direção e rapidamente para bem ao meu lado. Ele se aproxima devagar e diz ao meu ouvido:
            - Eu não sei seu nome.
            Sorrindo, logo respondo em tom de brincadeira:
               - Eu também não sei o seu.
              E ele finalmente se apresenta :
              - Vítor...
              - Olá Vítor, eu sou a Tabata.
              Ficamos um olhando para o outro, quando o metrô chega e embarcamos. Ele curiosamente pergunta se já tomei café. Respondo que  não e ele me faz um convite : 
               - Conheço uma padaria muito boa, que fica na Faria Lima... Gostaria de ir até lá? Preciso muito saber como você consegue ter tanto bom humor em uma segunda-feira como esta. - ele ri.
               Olho para o relógio e vejo que estou com tempo, olho para ele rindo e aceito o convite. Uau, que dia! Por fim, descemos na estação e vamos em direção a padaria. E de repente, essa segunda-feira de manhã não é mais sonolenta e nem chuvosa, mas sim, muito melhor do que poderia ser.



Amanda Borgato




sábado, 19 de dezembro de 2015

Desabafo de quem não conheceu o amor

     


                           Tenho um coração partido. Um coração que eu mesma parti. Sofri uma queda grande que me causou graves ferimentos. Sofri com uma queda da qual eu mesma me joguei. Cometi erros como se fosse uma criança que não sabe o que faz. E de repente acordei adulta, percebendo que tinha milhões de decisões para tomar, diversas mudanças para acontecer, traçando um rumo novo para fugir do engano. Me decepcionei, chorei, magoei e sofri. E por isso, me mantenho distante do amor. Me mantenho longe de qualquer um que queira uma aproximação mais intima. Me mantenho longe, não daqueles que querem meu corpo, mas sim, o meu coração, a minha alma. Fujo de quem quer me conhecer verdadeiramente e descobrir meus mistérios. Fujo daqueles que se entregam e que só querem a mim e mais ninguém. Fujo, pois sei como é ter tudo isso. Já me entreguei. Já fui apenas de uma pessoa. E me machuquei. Me machuquei mais ainda por machucar o outro também. Estou tão ferida e tão machucada, que não quero fazer isso com mais ninguém. Não quero que sofram por enganos meus. Sei do mal que posso causar devido as minhas incertezas. E por ter tantas incertezas, tantas dúvidas, não quero me aproximar de ninguém no momento. 
              Eu machuco as pessoas. Minto. Prendo-as a mim. Faço promessas, juras de amor eterno. Causo tanto mal, por eu mesma acreditar no que digo. Assim, prefiro esperar para me entregar novamente e acolher alguém em meu coração. Porque, mesmo com tantas amarguras, tantos desacertos e tropeços, ainda acredito no amor. Tenho que acreditar, não existe nada de melhor nesse mundo. Não posso deixar de idealizar aquele homem que aparecerá um dia e me fazer ter certeza de tudo. Aquele que irá me calar com suas atitudes doces e me dará tudo o que preciso. Tudo o que preciso para meu coração. Um dia, aparecerá alguém no qual eu me apaixone e ame. Que me ensinará a amar verdadeiramente, e não apenas ser amada. Pois, meu egoismo nunca me permitiu que aprendesse a amar. Quero uma pessoa que me faça sentir, que me poupe palavras, alguém que se conecte comigo e me entenda. Preciso de alguém feito para mim, sem mais nem menos, de forma inexplicável. Que me respeite, me apoie, me entenda, me evolua e sonhe comigo. Um alguém que caminhe na mesma direção que eu e que, quando aparecer, me fará entender o porquê de toda essa espera. 
            No momento, esse alguém não tem rosto, não tem nome, não tem cheiro. Esse alguém talvez não exista no meu dia-a-dia, ou talvez, nem seja percebido. Mas esse alguém já me é especial, me faz sentir saudades, mesmo sendo desconhecido, me causa uma ânsia, uma curiosidade de conhecê-lo. Esse alguém um dia saberá que será amado por mim, como nunca foi em toda a sua vida. Quando nos encontrarmos, a dor de ambos passará e não precisaremos de mais nada, apenas de nós mesmos. Esse alguém, ainda não chegou e não sei quanto tempo demorará para tanto, mas enquanto isso, aprendo a me amar, me conhecer e, acima de tudo, tentar não me magoar, para que meu coração esteja em perfeitas condições de se encaixar ao dele. Sem danos e sem lesões, somente o amor, da forma mais verdadeira que tiver, da forma que jamais conheci.



Amanda Borgato